segunda-feira, 21 de junho de 2010

Niki Lauda - Parte II por Roberto Brunherotto

Após o abandono de Lauda no GP do Japão de 1976, que deu o título a Hunt, Lauda respondeu aos repórteres que saiu por medo, pois a pista não tinha condições e foi se consolar no seu mais verdadeiro amor.

 Marlene e Niki Lauda


Corria o ano de 1977 e a Fórmula 1 ia recomeçar. O campeão a ser batido era o ingles James Hunt da Mclaren (pra mim o campeão mais sonso que a F1 teve). As Ferraris iriam alinhar com os carros nº 11 de Niki Lauda (11?) e nº 12 de Carlos Reuteman.

 Ferrari de 77 de Lauda

Lauda que eu saiba só usou número impar em seus carros quando foi campeão do mundo. Mas acredito que seja para indicar que o 1º piloto da Scuderia Ferrari era ele.
A temporada de 1977 coroaria de novo o mais completo piloto da história da Fórmula 1. Tudo parecia ter voltado a normalidade mas algo de estranho aconteceu. Não me recordo em qual GP aconteceu o fato, mas Gilles Villeneuve havia feito uma corrida pela Mclaren e despertou o interesse do comendador Enzo Ferrari e decidiu colocá-lo num terceiro carro da equipe. Lauda não concordou com isso e avisou que se a equipe fizesse isso ele não correria. Gilles disse: “pois ele que não corra”. Esse foi o fato que culminou com a saída de Lauda da Ferrari.


Levou consigo o nº 1 de campeão do mundo para a Brabham, sua nova equipe. Lauda teve a difícil tarefa de deixar o modelo BT 46 competitivo. Nessa equipe conhece John Watson, excelente pessoa e bom piloto.

 Watson e Lauda
Os dois reclamam do carro, principalmente do motor 12 cilindros da Alfa Romeo, pesado e beberrão, sempre dava problemas de ancoragem e aquecimento. Mesmo assim Lauda ganhou corridas com esse modelo e na Suécia, estréia o fantástico BT 46 B Fun Car (foto do carro acima). Diz a lenda que Bernie Eclestone, ao perceber nos treinos livres que o carro era virtualmente imbatível, pediu para Lauda e Watson NÃO acelerarem todo o potencial do carro na tomada de tempo oficial para não levantar suspeitas da possível ilegalidade do carro. E assim aconteceu. A pole foi de Andretti com o Lotus 79 carro asa. Waston e Lauda nessa ordem largaram atrás dessa Lotus, mas Watson teve problemas e ficou pelo caminho. Lauda grudou em Andretti e se segurava para não passá-lo tão facilmente. O mestre se aproveitou de uma alongada de Andretti na entrada da curva que antecede a reta dos boxes. A Lotus se apóia na zebra externa da curva e sai velozmente na reta, mas Lauda solta a trazeira da Brabham no meio da curva, corrigindo a frente fazendo a curva em metade da largura da pista, saindo mais forte e efetuando a ultrapassagem e abrindo facilmente. Parecia que Lauda dirigia o carro com as pontas dos dedos e falava com ele. O mestre mandava e o carro obedecia. Pouco depois o motor Ford da Lotus de Andretti estoura e ai ficou mais fácil ainda.
O carro realmente foi banido da F1, mas a vitória foi confirmada. Com o modelo 46 “normal”, Lauda ainda ganharia o desastrado GP da Itália que vitimou dois pilotos: Brambilla com traumatismo craniano, ainda sobreviveu, mas Ronnie Peterson morreu vitimas de embolia causada pelos ferimentos. Lauda culpa até hoje Riccardo Patrese pelo acidente e pelo que eu sei nunca mais se falaram.
O ano de 1979 começa com a mudança de piloto na Brabham: sai Watson e entra Nelson Piquet. O carro é muito ruim e deixa os dois pilotos como coadjuvantes. Lauda pega seu boné Parmalat e sai durante o GP do Canadá e vai cuidar da Lauda Air, sua companhia de aviação.


Mais uma vez meu interesse por F1 fica abalado. O mestre saiu de forma estranha, mas vivo e inteiro. Consta que Marlene nunca foi fã das corridas e isso a deixou aliviada.

 Marlene Lauda
Em 1980 conheci um tal de Alain Prost que me pareceu ser muito bom. Em 1981 ele vai para a Renault Turbo e se destaca por sua incrível habilidade. Precisava ser lapidado por um grande companheiro de equipe (deixe esse comentário acesso na memória). Parecia que minha lacuna com um ídolo seria preenchida.
Em 1982, a Mclaren anuncia sua dupla de pilotos para a temporada: John Watson carro nº 7 e Niki Lauda carro nº 8. Pronto: o mestre estava de volta.


Dizem que quem provoca o destino acaba se dando mal. Gilles Villeneuve disse que Lauda estava acabado e nem corridas ganharia. Lauda ganhou corridas no ano de sua volta e Villeneuve acabou morrendo em Zolder. Deixa profunda saudade até hoje e tenho certeza que Lauda ficou muito triste com a perda de um colega de trabalho. Mas a vida continua e Lauda ainda tinha a velha chama acesa e lenha para queimar.
Em 1983, quase todas as equipes tinham motores turbo e a Mclaren não tinha (provavelmente Ron Dennis ainda não havia achado quem lhe desse os motores na faixa). Infelizmente Lauda e Watson estavam fora de combate. No finalzinho da temporada, Lauda aparece com uma Mclaren Tag Porsche Turbo fazendo muito “barulho” e incomodando Piquet e sua Brabham BMW Turbo, que seriam campeões ao final de 1983.
Começa 1984 e a Mclaren vem com um trio imbatível: Lauda, Porsche e Prost (lembram do meu comentário acima?).
Lauda sentia que este ano era seu. O carro era fantástico, o piloto dispensa comentários e a equipe era sinônimo de eficiência.
Como era de se esperar, com carro acertado e talento de sobra, Lauda seria campeão por meio ponto em cima de Prost, que já em 1984, assimilou os mandamentos de Lauda de como acertar um carro.


Lauda chegaria em 2º no Estoril mas, depois da entrega dos troféus, Prost mudou de posição com o campeão.


1985 foi marcado por muitos azares mecânicos, acidentes estranhos (Spa deixou Lauda com um pulso luxado e de fora de duas corridas, sendo substituído por Watson e Adelaide ele bate no muro de forma estranha: Lauda erraria numa reta desse jeito ridículo? Ele não é perfeito, mas bater daquele jeito só poderia ser falha mecânica: os freios falharam; Lauda provavelmente jogou o carro no muro para evitar coisa pior ou travou o freio dianteiro esquerdo que fez o carro ir de encontro ao muro), vitória memorável em Zandvond Holanda, e anúncio da retirada em Zeltweg Austria, terra natal.
O ciclo Lauda na F1 estava completo com o tricampeonato de 1975, 1977 e 1984.
Tenho certeza absoluta que acompanhei a trajetória de uma lenda da F1, um piloto fantástico e certamente um ser humano que valia a pena ter como amigo. Prost que o diga. Piquet também. Chegou a hora do rei descansar, mas o cetro não pode ficar encostado. Lauda deixou um sucessor que impressionaria o mundo “quase” como ele: Alain Prost. Mas isso é uma outra história. 

  Mathias Lauda, filho do tricampeão

  Dupla infernal da Ferrari: Regazzoni a esquerda e Lauda a direita

Casal Lauda na noite de gala após o título de 1984.